O professor está na linha de frente de toda e qualquer política educacional. Nestes tempos de pandemia e de ensino remoto, há milhares de profissionais fazendo a diferença Brasil afora. Por isso, reproduzo, neste post, parte de um texto que recebi da ONG Educando, responsável pelo projeto STEM Brasil, que ajuda a formar professores para o ensino de física, química, biologia e matemática. Investir nos professores é investir na melhoria da qualidade da educação.
Confira abaixo o texto da ONG Educando:
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Diante da incerteza de quando as aulas presenciais serão retomadas normalmente, cabe aos professores a difícil missão de manter os alunos interessados pelos estudos. Para isso, é preciso se reinventar, usar toda a sua bagagem e muita criatividade.
É o caso de Félix Hermínio, do Centro Integrado de Ensino Profissionalizante (Ciep) 031 Lírio do Laguna, de Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro. Professor de biologia, ele vai muito além de sua disciplina em aulas ‘não-tradicionais’.
“Tenho mais de 50 aulas diferentes. É o nosso papel ser combustível para que os estudantes continuem interessados na escola”, diz. Atualmente, mesmo com o distanciamento, Félix Hermínio mantém um grupo que desenvolve projetos de robótica e outros conhecimentos adquiridos pelo docente durante sua passagem pelo STEM Brasil, programa da ONG Educando que oferece a professores uma capacitação em aulas ‘mão na massa’.
“São diversos projetos, como um veículo automatizado, montado em casa por um dos alunos, por exemplo. A formação dada pelo STEM Brasil facilita a forma de interagir com os alunos e dá a possibilidade de fazer ciência com material do cotidiano. Com a experiência que os alunos adquiriram ao longo de 2019, eles continuam, mesmo a distância, desenvolvendo projetos usando o material que têm em casa junto com o que foi disponibilizado pelo programa”, conta o professor. A escola, que até 2018 sofria com problemas de falta d’água, também recebeu da ONG materiais para serem utilizados pelos professores nas aulas.
O estímulo com aulas práticas pode ser uma das saídas para se evitar a grande evasão escolar no Brasil. Segundo o estudo ‘Consequências da violação do direito à educação’, feito em parceria pela Fundação Roberto Marinho com o Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), 575 mil adolescentes de 16 anos (17,5% do total da população nesta faixa etária) não vão concluir o ensino médio e, assim, completar a educação básica no Brasil. Um prejuízo de R$ 214 bilhões por ano no país. Os números foram divulgados em julho.
Reconhecimento
Com o apoio da ONG e do grêmio escolar, Félix Hermínio já organizou diversas feiras de ciências no Ciep 031 e já viu seus alunos terem trabalhos reconhecidos em diversas outras exposições, inclusive de nível estadual. Um dos projetos premiados é uma composteira com monitoramento de umidade, de luminosidade e de temperatura, feita de material reciclado e com sensores construídos a partir de material disponibilizado pela Educando.
“Pude mostrar aos alunos que é possível arranjar uma fonte de renda a custo zero, incentivando o empreendedorismo. O húmus pode ser vendido e, com o valor recebido, é possível comprar uma planta suculenta que pode se transformar em diversas mudas, que podem ser vendidas depois”, explica o professor. Outro projeto reconhecido é um bípede que se movia, feito inteiramente de sucata e palitos de picolé. Os alunos criaram ainda um carro robótico somente feito com sucata.
Essas experiências vividas em sala de aula garantiram a Hermínio uma vaga no mestrado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFJR). Segundo ele, no processo de admissão, contou todo o trabalho que estava desenvolvendo com os alunos. “Mostrei isso, que o professor tem que estar aberto ao aluno, ainda mais para o aluno carente. Ele não tem comida, água, vive com tiro. Não vai ter calma para estudar. Só copiar do quadro também desmotiva o aluno, e um dos grandes problemas da educação aqui é a evasão. Chega no final do ensino médio, a turma está vazia, porque a escola não é agradável”, conta.
“Felizmente os alunos do professor Félix têm a oportunidade de contar com o apoio do STEM Brasil, que segue fazendo a diferença na educação e apoiando milhares de ‘professores Felixes’ em todo o país”, afirma Marcos Paim, diretor da Educando.
Sobre o STEM Brasil
O STEM Brasil começou em Pernambuco, em 2009, e já formou 6.533 professores em 768 escolas de 17 estados brasileiros, alcançando um impacto positivo em mais de meio milhão de alunos (575 mil). O sucesso levou o programa a ser adaptado para o currículo mexicano, e o STEM México foi implantado no país no ano passado. Segundo levantamento da consultoria internacional ManpowerGroup, engenheiros e profissionais de TI são cargos em que há grande carência de mão de obra em ambos os países.
O programa oferece aos professores formação exclusiva, seguindo uma metodologia própria, que enfatiza a mão na massa para dar vida ao currículo obrigatório de ciências e matemática dos estados brasileiros. As técnicas de ensino são baseadas em atividades práticas e facilitam o aprendizado de conceitos teóricos. A formação envolve quatro áreas: física, química, biologia e matemática. Cada professor passa por 180 horas de formação distribuídas ao longo de dois anos. “O objetivo do STEM Brasil é incentivar o professor a despertar a sua paixão nos alunos”, afirma Kelly Maurice, diretora-executiva da Educando.
Sobre a Educando
Fundada em Nova York, em 2002, como World Development and Education Fund (Worldfund), a organização não governamental passou a se chamar Educando em junho de 2018. Desde o início, trabalha em parceria com governos locais para trazer investimentos de empresas privadas para projetos educacionais na América Latina. Em 16 anos, a instituição já capacitou mais de 13,6 mil educadores de 11,5 mil escolas no Brasil e no México, com impacto em quase 5,6 milhões de estudantes.